quinta-feira, 29 de abril de 2010

O papel das fábulas na educação leitora das crianças

O signo linguístico, isto é, a palavra, segundo Ferdinand de Saussure, possui duas faces: o significante, que corresponde à imagem acústica que nos vem à mente quando ouvimos uma palavra; e o significado, termo relacionado à ideia ou ao conceito que temos de algo. Graças à teoria de Saussure, a palavra passou a ser uma unidade importante na estrutura das línguas, especialmente as modernas.

As palavras têm traços discretos, traçados icônicos, sugestivos e históricos dos nossos ancestrais, e sons distintivos (fonemas). Todavia, as palavras têm, também, ideologia, ou seja, o pensamento dominante dos que, em determinado momento da civilização, dão as regras de convivência social ou ditam as condutas ou o comportamento das pessoas, muitas vezes interditando de forma avassaladora o corpo e a alma delas, como ocorre em muitas formas de governo, partidos políticos ou religiões duras, de modo que as pessoas não são consideradas construtoras de sua história, sujeitos de sua liberdade e de sua aprendizagem.

A interdição do corpo, especialmente da nossa voz e do gesto, podemos observar ideologicamente na formação de algumas palavras de origem clássica. É o caso de infância, que significa aquele que não fala. A palavra infância, tão presente nas teorias da aquisição da linguagem, não poucas vezes parece ainda conservar essa ideia em teorias de aquisição da linguagem que não veem nas crianças sujeitos de sua própria fala ou linguagem.

Na visão tradicional dos gregos e romanos, acreditava-se que as crianças, pelo menos nos três primeiros anos de vida, não sabiam falar como os adultos e que o balbucio articulado não poderia ser considerado um prenúncio importante de uma capacidade de expressão verbal, mas que as crianças eram unicamente capazes de escutar os mais velhos, para que, ouvindo “a fala dos adultos”, imitassem-nos e aprendessem, após os três anos, a iniciar-se na difícil habilidade de “falar como os grandes”. A fábula é, assim, o gênero textual escolhido pelos adultos para que as crianças aprendam lições de vida, da moral e da ética das coletividades, especialmente das famílias.

As fábulas, como sabemos, são narrações populares ou artísticas de fatos puramente imaginados. A imaginação é importante para quem fala e escuta e, na sociedade letrada, imprescindível para o leitor iniciante diante do texto escrito que precisa ser oralizado em determinados contextos de comunicação. Se as fábulas favorecem a imaginação criadora desde a infância, logo as habilidades linguísticas serão beneficiadas com a escuta ativa por parte das crianças durante os anos da pré-escola em que escutam, de forma prazerosa, fábulas, parlendas para fazer rir, trava-línguas, contos e histórias do folclore de sua comunidade.

Mais tarde, saem, aos quatro ou cinco anos de idade, da préescola, última etapa da Educação Infantil, ou de seus lares, em que são compulsoriamente matriculados nas escolas de Ensino Fundamental, em busca da educação formal e do conhecimento cultural e historicamente acumulado pelos povos. As crianças, agora aos seis anos, terão que escrever bem e ser formalmente criativas. Não poderão escrever rabiscos ou escrever por escrever como ocorria na Educação Infantil. Terão que escrever um texto criativo e com imaginação criadora, mas dentro dos padrões cultos e prescritivos da palavra e dos textos escolares.

No Ensino Fundamental, para ingressar na sociedade letrada, há a exigência contumaz de que as crianças terão que ler e escrever corretamente. Desse modo, a ortografia, que depende muito da memória visual, encontrará boa receptividade nas crianças que tenham sido estimuladas, desde a Educação Infantil, a recontar as histórias fabulosas que ouviram de pais, amigos, contadores de histórias e professoras.

Graças a essa formação pelo ouvir, formaremos, plenamente, na última etapa da Educação Básica, o Ensino Médio, leitores e escritores proficientes para a vida social. Por isso, desde cedo, se faz necessária a educação leitora, escritora e ortográfica das crianças, de modo a levar os educandos, com ou sem dificuldades na aprendizagem das habilidades linguísticas, a desenvolverem a “capacidade de evocar imagens de objetos anteriormente percebidos” e, assim, oferecer boas tarefas que envolvam as habilidades da linguagem escrita.

Ao certo, nem todas as crianças têm o mesmo insight no período da Educação Infantil. Muitas, por exemplo, com atraso na fala, já observado pelos pais e professores nas creches e na pré-escola, tendem a ter comprometimento na leitura em voz alta no Ensino Fundamental, a que chamamos de dislexia. Para as crianças disléxicas, as fábulas, principalmente, são altamente benéficas do ponto de vista pedagógico por serem um gênero da literatura que se caracteriza por trazer uma curta narrativa, em prosa ou verso; que tem, entre as personagens, animais que agem como seres humanos; e que ilustra um preceito moral. São as fábulas em prosa que facilitam a compreensão leitora; e as em verso, as que ajudam na sensibilização às rimas e, por consequência, na decodificação leitora.

No tocante às tarefas de avaliação da compreensão leitora, inclusive com fins de promoção escolar — ainda tão presentes no currículo para definir a aferição do rendimento —, a boa recomendação pedagógica é que os professores tomem como bons gêneros literários as fábulas de Esopo, as parlendas de origem nacional, o rico regionalismo linguístico e literário dos cordéis das comunidades rurais, por não quererem que reproduzam a “mesma fala” do texto, levando os pequenos a recontarem a história de sua gente com suas próprias palavras. É o que, em linguística, chamamos de paráfrase. A paráfrase é um recurso didático dos mais viáveis e produtivos nas atividades em que o professor requer conhecimentos antes, durante e depois da leitura por parte dos seus alunos.

Eis um exemplo de fábula de Esopo que conduz as crianças, na primeira infância, à compreensão leitora na Educação Infantil, a partir da escuta ativa, e à formação leitora crítica, nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

O Sapo e o Boi

Há muito, muito tempo, existiu um boi imponente. Um dia, o boi estava dando seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo malvestido o olhou e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do mundo, o sapo chamou os amigos.

— Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa; se eu quisesse, também seria.

Dizendo isso, o sapo começou a estufar a barriga e, em pouco tempo, já estava com o dobro do seu tamanho normal.

— Já estou grande que nem ele? — perguntou aos outros sapos.

— Não, ainda está longe! — responderam os amigos. O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.

— Não — disseram de novo os outros sapos —, e é melhor você parar com isso, porque senão vai acabar se machucando.

Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando, estufando até estourar.

Moral: Seja sempre você mesmo.

Sugestões de Leitura:

AIMARD, Paule. O Surgimento da Criança na Criança. Porto Alegre: Artmed, 1998.

BALIEIRO JR., Ari Pedro. Psicolingüística. In: MUSSALIM, Fernanda;

BENTES, Anna Christina (Orgs.). Introdução à Lingüística: Domínios e Fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.

DEL RÉ, Alessandra. A Aquisição da Linguagem: uma Abordagem Psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

KATO, Mary A. No Mundo da Escrita: uma Perspectiva Psicolingüística. São Paulo: Ática, 1990.

KAUFMAN, Diana. A Natureza da Linguagem e sua Aquisição.

In: GERBER, Adele. Problemas de Aprendizagem Relacionados à Linguagem: sua Natureza e Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

PUYUELO, Miguel, RONDAL, Jean-Adolphe. Manual de Desenvolvimento e Alterações da Linguagem na Criança e no Adulto. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (Orgs.). Introdução à Lingüística: Domínios e Fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.

SHAYWITZ, Sally. Entendendo a Dislexia: um Novo e Completo Programa para Todos os Níveis de Problemas de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.

VIGOTSKI, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará.

Fonte:http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1509

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Feira do Livro Infantil de Fortaleza

A Feira do Livro Infantil de Fortaleza é um evento de cunho cultural com o objetivo de promover a literatura infanto-juvenil, com a participação de editoras de todo país ou seus representantes. Será realizada na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, no período de 15 a 18 de setembro de 2010. Haverá sessões de autógrafos, palestras e debates com autores e ilustradores, saraus literários e contação de histórias para crianças e toda a família.

Fonte: http://www.fortaleza.ce.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=13243&Itemid=78

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Livro precisa ser um vício

O segredo com crianças de 7 a 9 anos, segundo a escritora, é não forçar a barra


Mais de 40 títulos para crianças e adolescentes estão no currículo da escritora Fanny Abramovich, que também já esteve "do lado de cá" da sala de aula: ela foi professora de Educação Infantil e arte-educadora por mais de 30 anos. Seus primeiros livros instigavam professores a repensar seu papel, como em Que Raio de Professora Sou Eu (Ed. Scipione). Hoje, no entanto, é ficção o que ela mais gosta de escrever.

Como estimular a leitura entre crianças de 7 a 9 anos?

FANNY ABRAMOVICH Contar histórias com paixão e não forçar a barra são formas de estimular a leitura. Muitos alunos meus, de 40 anos atrás, já me encontraram pela vida e ainda lembram do jeito como eu contava histórias. Eles não esquecem porque isso os marcou. Ler não pode ser hábito, tem de ser vício. E contar histórias, ler para as crianças, ajuda a "viciá-las".

Por que nessa idade histórias de terror fazem tanto sucesso? O que exatamente mobiliza o interesse delas por esse tema?

FANNY Não acho que sejam apenas histórias de terror que interessam às crianças nessa faixa etária. Elas gostam de ler histórias engraçadas, tristes, de suspense, de comédia... O que realmente as prende é a emoção. Mas os monstros representam o medo das crianças, e talvez por isso algumas gostem tanto desse gênero literário.
A criança dos anos 1970 não é a mesma de hoje. O que mudou? O que elas liam há 30 anos? Liase mais naquela época?

FANNY Boas histórias atraem as pessoas através dos tempos. Não me consta que as pessoas deixaram de gostar das histórias da Bíblia ou de fadas. E não acredito que apenas as crianças lêem menos. No sistema escolar, quem está lendo menos são os educadores. E eles infl uenciam bastante a leitura junto à garotada. Hoje, criam-se salas especiais de leitura, com professores especializados, cursos de mediação de leitura e mais uma série de recursos. Nesse processo, aquilo que era uma "simples gostosura" - sentar no chão e contar histórias - acaba se perdendo.
O que mais atrai em sua obra?

FANNY Meus livros fazem sucesso porque são engraçados, não têm lição de moral e são escritos em linguagem coloquial. Mas faz apenas dez anos que escrevo para o público infantil. Antes, eu escrevia para jovens e, antes ainda, para educadores. Escrever para crianças não é fácil. É preciso ritmo e poesia, além de saber contar uma história com poucas palavras.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/livro-precisa-ser-vicio-423573.shtml

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A velha a fiar

A festa no céu

Último dia de Bienal celebra Dia Nacional do Livro Infantil com a presença de Mauricio de Sousa e Pequeno Cidadão


O mundo mágico da Turma da Mônica abre as portas para o público cearense neste domingo (18) durante o último dia de programação da IX Bienal do Livro. Na data em que se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil, o evento conta com a presença do cartunista Mauricio de Sousa, que participará da palestra "Mauricio 50 Anos: Como fazer Quadrinhos e Dar Certo no Brasil?". O encontro está marcado para às 13h30, no Salão O Quinze – Auditório Principal.


Maurício de Sousa começou a desenhar histórias em quadrinhos no final dos anos 50, quando uma história do Bidu, seu primeiro personagem, foi aprovada pelo jornal em que trabalhava. As tiras em quadrinhos com um cãozinho Bidu e seu dono, Franjinha, deram origem aos primeiros personagens conhecidos da era Mônica. Essa é a primeira vez que Mauricio de Sousa vem ao Ceará depois do sucesso da série “Turma da Mônica Jovem”.

Outro destaque da programação deste domingo (18) na Bienal será a escritora ítalo-brasileira Marina Colasanti, autora dos livros “Eu Sozinha”, “Cada Bicho seu Capricho” e “Ana Z Aonde Vai Você?”, este último premiado com o Prêmio Jabuti Infantil. A escritora estará às 17 horas no encontro “Literatura pela e para crianças”, na Arena Multicultural Memorial de Maria Moura.


A temática infantil, presente em toda programação da Bienal, marcará o encerramento do evento. Será apresentado o espetáculo Pequeno Cidadão, projeto de Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto, voltado especificamente para o público infantil. Junto com os filhos, os músicos brincam de ser criança em cima do palco com canções que abordam as primeiras dificuldades da vida, como hora de largar a chupeta. O show acontece às 20h30 no Salão O Quinze - Auditório Principal.


Este ano, a Bienal do Livro trouxe o tema “O Livro e a Leitura dos Sentimentos do Mundo” e homenageou a escritora Rachel de Queiroz, que completaria 100 anos em 2010 e cujas obras nomearam todos os espaços montados no local de realização do evento. A Bienal do Ceará reuniu alguns dos principais nomes da literatura nacional, editoras, livrarias e profissionais que compõem as cadeias do livro e da leitura. O evento é uma ação de política pública do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), visando o acesso ao livro e debates, numa promoção pelo Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindilivros) e apoio da Coelce, Sesc-CE e Café Santa Clara.


Fonte:http://www.bienaldolivro.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=145